O relógio quebrado na cabeceira da cama ainda funciona, mesmo com a tua ausência que tanto se tem notado nestes últimos tempos. Apago a luz, arrumo a cama, abstraio-me das vozes que lá de fora são provenientes. Só queria a tua presença aqui, nada mais. Tu, o teu corpo, o teu perfume, a tua alma, o teu coração e todo o teu amor, para se poderem deitar comigo e fazer da noite sombria e fria uma noite quente e de amor intenso. Sem mentiras, sem palavras, apenas olhares, suspiros, respirações ofegantes, nada mais. Eu sei que é pedir demais, mas ainda assim eu continuo aqui, á tua espera, embora saiba que nunca mais vais voltar. Estou feita em pedaços, mal consigo respirar neste ar que jamais terá odor a ti, mas o meu coração, por mais quebrado que esteja ainda continua a bater. Para a dor talvez ainda haja uma cura, mas necessito de a encontrar, como se de uma receita se tratasse. As fechaduras partidas são sinal que tu nunca mais voltarás. Eu tentei ser o teu melhor, ser o teu anjo da guarda, ser um livro aberto na qual escreverias tudo o que mais gostasses, mas nada foi suficiente. Ainda vejo o reflexo do teu rosto no espelho em que ambos nos observávamos, ainda te vejo do meu lado como sempre estiveste, ainda procuro um propósito, ainda procuro a vida. Não posso fazer com que me voltes a amar, não posso fazer com que o teu coração sinta aquilo que no passado sentiu. Fecharei os meus olhos na esperança de nunca mais te ver ou imaginar que um dia vais voltar a morrer de amores por mim. Jamais este amor eterno me fará aparecer do teu lado nas noites em que mais precisares. Eu preciso de voltar a sentir o toque daquelas palavras poderosas que de ti eram provenientes, preciso de voltar a ouvir o tom suave da tua voz. Porque é que te tiraram de mim? Porque é que o nosso amor não foi imortal? Guardo no meu peito a chama do nosso amor, que por mais fraca que esteja, estará sempre viva, dentro de mim. Guardo a voz de quem me amou, de quem me fez feliz e de quem jamais voltará para me amar.
"A tua ausência"