Subi ao passeio, desejei que estivesses ali naquele exacto
momento, pronto para me dares um beijo de saudação, e esperando que me desses a
tua mão para que os nossos dedos se pudessem entrelaçar. Desejei e não
alcancei, procurei-te e não houve sinais teus. O teu perfume já não era mais o
ar que preenchia aquela rua, o odor que eu costumava respirar já não estava
mais ali. As lágrimas rapidamente se apoderaram de mim, tomei consciência que
por mais que quisesse tu não poderias estar ali, estavas a tantos quilómetros
de distância que preferi sentar-me naquele frio chão e chorar por ti, por todas
as saudades que não têm explicação e que me vão matando aos poucos. Depressa
percebi que não fazia qualquer sentido estar ali, naquele chão que nos diz
tanto, percebi que não poderia dar parte de fraca, não poderia chorar por ti
sabendo que tu estavas feliz, sabendo que, provavelmente, poucas ou nenhumas são
as vezes que te lembras de mim ou do "nós" que se perdeu no decorrer
do percurso. Senti a necessidade, imediata, de me levantar, erguer a cabeça e
enfrentar a vida. O ar pode já não conter o teu perfume, as minhas mãos podem já
não se entrelaçarem nas tuas, o teu beijo pode já não ser o alimento do meu
"eu", mas a verdade é que o amor permanece aqui, vestido de saudade,
de dor, de lágrimas, de tristeza mas, ele ainda mora em mim. E por te amar eu
percebi que não posso continuar a lamentação, eu perdi-te mas, a vida continua.
E, sabes, os meus precisam de mim, do meu sorriso, da minha energia contagiante,
precisam de mim inteira e não na metade.
"Saudade complexa"